A história é um relato de fatos que se sucedem; para entender um fato histórico é necessário situá-lo no tempo e no espaço geográfico. Cada época tem um conjunto de acontecimentos que se encadeiam e se interrelacionam. Assim, o período de 1964-1986, da chamada "Ditadura Militar" no Brasil, deve ser olhado num contexto maior do país no conjunto social e politico do mundo na época.,
No pós-guerra havia no mundo dois grupos antagônicos : 1- O grupo dos países comunistas de orientação marxista e ateu liderado pela URSS. 2- E o grupo do Mundo Ocidental de orientação capitalista cristã e democrática, liderados pelos EEUU.
O Brasil fazia parte deste segundo grupo.
Na América Latina dominavam algumas ditaduras. Entre elas a de Cuba, sob o regime de F. Batista que foi derrotado, a partir da Sierra Maestra, por Fidel Castro e um grupo de guerrilheiros que tomaram o poder.
O Brasil, com fim da era Vargas, vivia sob um programa desenvolvimentista do governo de J.K. - "50 anos em 5!" A construção de Brasília, a reorganização dos espaços geográficos e a ocupação do planalto central abria novos horizontes.
Na época estávamos cursando a Universidade. A vitória da revolução cubana era motivo para debates, ainda um tanto ingênuos nos meios estudantis. Não havia a massificação das comunicações como hoje. A formação de opinião teve a colaboração de alguns setores da Igreja através de padres que também exerciam cargos políticos , e através da pregação de doutrinas sociais divulgavam novas idéias nas missas para universitários.
A "guerra fria" entre EEUU e URSS se desenvolvia no espaço com o lançamento do primeiro satélite artificial pelos russos. Era um mundo novo. A industrialização começava a chegar ao Brasil criando uma nova classe de operários. Eram os anos dourados. Em Cuba, ao contrário do que era de se esperar, Fidel Castro assumiu o governo da ilha em 1959 quando se esperava que houvesse eleições livres. Isto desagradou aos companheiros de luta (San Marti e Cienfuegos) que foram eliminados. Teve início uma perseguição política aos opositores da nova situação que se agravou com a inabilidade do governo americano e teimosia do "Comandante cubano", os EEUU bloqueram a ilha; Fidel Castro voltou-se para a União Soviética que o recebeu de braços abertos. No Brasil, muitos jovens encantados com o ilusório do diferente começaram a cultivar a ideia de também tomar o poder no Brasil - fazer uma revolução...
No dia 3 de Outubro de 1960, com 5,6 milhões de votos foi eleito para Presidente do Brasil o Sr. Jânio da Silva Quadros (UDN) e para Vice o sr. Jango Goulart (PDT) de orientação de esquerda e simpatizantes comunistas.
O Presidente eleito, antes de sua posse visitou Cuba. Após a posse enviou o Vice, Jango Goulart em missão à China comunista. Durante o curto período em que governou, Jânio Quadros tomou medidas econômica de ordem conservadora e uma politica exterior independente que desagradou a sociedade e as forças políticas. Desagradou também alguns setores das Forças Armadas ao condecorar com a Grã Cruz da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul o revolucionário Che Guevara, jornalista argentino que aderira à guerrilha e ao governo comunista cubano.
No dia 25 de Agosto de 1961 o Presidente Jânio Quadros alegando pressões (forças ocultas) renunciou ao cargo. Coincidiu ser o período em que o Vice Jango estava em viagem pela China. A renúncia foi aceita pelo Congresso e o sr. Raineri Mazzili assumiu a presidência. O ex-presidente nunca explicou o que realmente pensava. "Fî-lo porque quî-lo"! foi sua única explicação. Supõe-se que desejasse fortalecer sua posição no momento em que o Congresso lhe pedisse para que ficasse no cargo e o povo o apoiaria. NÃO ACONTECEU...
A sequência política no Brasil ocorreu com a posse do Vice Presidente sob o regime Parlamentarista. Em 1963 houve um plebiscito e voltou-se ao Presidencialismo. As agitações foram tornando-se constantes e mais atrevidas. Até que em 31 de março de 1964 as Forças armadas entraram em ação para restabelecer a ordem.
Teve início então o período de 20 anos onde se sucederam 4 presidentes militares, eleitos indiretamente, e que tiveram seus governos reconhecidos internacionalmente.
Em 1986, com a abertura política, voltou-se às eleições diretas e aos governos civis.