segunda-feira, 15 de novembro de 2010

MONTEIRO LOBATO NA MIRA...

Quando ouvi dizer que a obra de Monteiro Lobato - "As Caçadas de Pedrinho" no sítio do Pica pau amarelo - estava sendo objeto de censura pensei que fosse por conta da "onça pintada" - problemas com ambientalistas e defensores dos animais... Mas, vejam só! O problema levantado é o de racismo na figura da Tia Nastácia que povoou o mundo imaginário dos livros do escritor que soube com muita propriedade retratar uma época. Foi a época em que ele viveu, a do Brasil rural com seus costumes, seu povo, seus problemas e sonhos. Foi ele quem substituiu a literatura infantil importada, e, que corajosamente incluiu nas páginas da literatura nacional os personagens de nossa realidade. Foi um retrato da época, com linguagem e modismos próprios da cultura de uma Nação em formação. Tudo é passível de observações e análises inteligentes. Proibições, não!
Monteiro Lobato era neto do Visconde de Tremembé, figura do Império em quem se inspirou para a criação do seu "Visconde de Sabugosa". Foi na casa desse avô que ele conheceu o Imperador D. Pedro II quando este, em suas viagens pelo Brasil, lá se hospedou. Foi na Biblioteca do avô que também ele se iniciou na leitura.
Consta que o visconde de Tremembé foi um dos proprietários de escravos que apoiaram a abolição da escravatura no Brasil.
Lobato tinha seis anos de idade quando a escravidão acabou no país. E sete, quando da Proclamação da República há 121 anos...
Lobato falava do que conhecia: - o sitio do avô, a natureza, o folclore, o povo... Começou como jornalista já na escola com o "agá-dois-ó", o menor jornal do mundo, com tiragem de um exemplar e uma folha só. Já adulto escreveu contos, foi jornalista, advogado, e, um dia, um amigo lhe contou uma pequena história que ele resolveu escrever como um conto para crianças: "História do peixinho que morreu afogado". Escreveu e reescreveu até dar-lhe a forma que mais lhe agradou acrescentando lembranças de sua infância. Nascia aí o escritor infantil, o primeiro escritor infantil brasileiro. Escreve também sobre temas para adultos. Foi editor.
A figura de Lobato rompeu fronteiras em todos os sentidos. Ele era um homem preocupado com o Brasil, com suas riquezas e principalmente com seu povo.
Príncipes, marqueses, viscondes, donas Bentas, tias Nastácias, Narizinhos, Pedrinhos, bonecas falantes, a natureza deslumbrante cheia de mistérios e entes fantásticos foram seu mundo - o mundo que ele soube retratar muito bem.
Ignorância tem limites. Descontruir o passado conforme modelos de hoje é demais!
Os heróis nacionais do passado não perderão o seu brilho, mesmo quando querem substituí-los por heróis pré fabricados a força de prêmios para o "politicamente correto". Literatura de qualidade como a de Lobato nunca vai perder a validade nem é passível de revisões, pois ela é o retrato de um momento do Brasil. Deve ser preservada para o bem da nossa CULTURA!